top of page

Convivência que Marca

let 1.jpg

Camila

É de se ressaltar que os dados sobre violência doméstica não são restritos apenas aos casos de agressão entre cônjuges. Dentro da própria família sanguínea há grande recorrência de casos que, muitas vezes, nem chegam ao conhecimento das autoridades competentes.. Foi isso o que aconteceu com Camila (nome fictício).

Numa manhã de um sábado que parecia ser só mais um, a garota se preparava para ir almoçar com o namorado. Toda sua família estava em casa, incluindo seu irmão, que parecia ter passado a noite fora e apresentava traços de embriaguez.

 

Na fila para tomar seu banho, Camila apressa seu irmão com uma brincadeira comum entre os dois. “Sai logo desse banheiro, bebim (sic)”, disse ela. Foi o suficiente para seu irmão sair, segurar seu braço, lhe dar um tapa e ameaçar: “Você já é maior de idade, não tem medo de ser presa”, gritou. Seu irmão é oficial da Polícia Militar.

“Você já é maior de idade, não tem medo de ser presa”

Irmão agressor

_DSC7788 (1).JPG
_DSC7799.JPG

"As marcas da sua mão ficaram no meu pescoço e em minha lembrança. meu nariz ficou roxo pela falta de ar, assim como meu sentimento por ele que ficou escuro"

A garota consegue escapar do aperto e respondeu: “Não tenho, não sou criminosa, e se não me soltar quem vai sair daqui preso é você”. Foi o que bastou para seu irmão apertar as mãos em volta de seu pescoço e levantá-la do chão. Nessa hora, Camila conta que o irmão a apertou com tanta força que, em suas palavras, "perdi os sentidos e o controle do meu corpo, me urinando toda.". Apenas quando Camila estava quase totalmente desacordada seu familiares apareceram para a ajudar a escapar:  "Você vai matar ela, solta, solta!". O que não a impediu de ser, ainda, arremessada contra a parede.

 

“Minha reação foi levantar-me do chão, fechar e trancar a porta. Assim eu fiz. Fiquei por um grande tempo paralisada segurando o trinco. Quando dei por mim minha mãe e irmã estavam batendo na porta perguntando como eu estava, pedindo que eu abrisse. Não abri. Comecei a chorar desesperadamente”, relembra.

Como se não bastasse ter sofrido tudo isso pelas mãos do próprio irmão, a garota ainda teve de ouvir pessoas a responsabilizando pelo fato: “Você foi muito atrevida”, diziam eles, ao mesmo tempo que afirmavam que não era culpa dela. Contraditório, para se dizer o mínimo. "As marcas da sua mão ficaram no meu pescoço e em minha lembrança. meu nariz ficou roxo pela falta de ar, assim como meu sentimento por ele que ficou escuro", afirma Camila.

Desde esse dia, a relação com o irmão mudou completamente: “Até uns três meses atrás eu nem olhava pra ele, fingia não existir. Não só por mágoa, mas mesmo por medo de dar abertura para acontecer novamente. E ele nunca dirigia-se a mim. Hoje em dia, trocamos poucas palavras, por iniciativa minha. Mas não chega a se configurar como uma relação”, explica.

 

Camila nunca chegou a denunciar seu irmão, embora tenha tido vontade. O que fica do fato é a mágoa e por saber que aquilo poderia ter acontecido com qualquer um de sua casa. Para mulheres em situação similar, ela recomenda: “Tenham força acima de tudo, não se deixem levar pelas justificativas de terceiros pois elas sempre te levam a pensar que você foi a culpada pelo acontecido. E que não façam como eu, que não denunciei, DENUNCIEM”.

bottom of page